Neste livro abordarei, a partir dos conceitos fundamentais da psicanálise lacaniana, os três tipos clínicos da psicose descritos pela psiquiatria clássica e adotados por esquizofrenia, paranoia e melancolia.Tratarei,portanto,dessas entidades clínicas que têm como denominador comum a foraclusão do Nome-do-Pai no campo do Outro – mecanismo essencial da psicose descrita por Lacan no final dos anos 50 e que permanece um marco e uma referência essencial para a clínica tanto psicanalítica quanto psiquiátrica. A referência ao Nome-do-Pai como divisor de águas da clínica jamais foi abandonada por Lacan, mesmo quando ele veio a acrescentar e desenvolver outros conceitos ao longo de seu ensino .A foraclusão do Nome-do-Pai no campo do Outro permanece uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose.“Pois”, diz Lacan em 1972,“foi na ‘questão prévia’ de meus Escritos, que era para ser lida como resposta dada pelo percebido na psicose, que introduzi o Nome-do-Pai, e é lá que, nos campos pelos quais ele permite ordenar a própria psicose, podemos medir sua potência.”Meu ponto de partida para abordar a psicose aqui é o campo do gozo e a teoria dos discursos de Lacan, principalmente no que concerne à esquizofrenia e à paranoia. Ao lado da foraclusão do Nome-do-Pai no campo do Outro acrescentamos uma outra referência de os tipos clínicos da psicose se encontram “fora-do-discurso”.Eis o que será problematizado neste livro, ocasião de nos perguntarmos sobre os laços sociais dos sujeitos psicóticos. Se eles estão fora-do-discurso e, portanto, fora do laço social por estrutura, isto não quer dizer que jamais entrem em relação com um outro sujeito dentro do marco de um dos discursos ? A vida cotidiana e a clínica com sujeitos psicóticos nos mostram que eles entram numa relação em que está em jogo o governo, o comando, a dominação, a submissão, a educação, a burocracia, o fazer desejar, a sedução, a provocação de saber, o psicanalisar.Pretendo aqui lançar as bases para se pensar o fora-do-discurso da psicose e suas tentativas de laço social. Assim como, para Freud, o delírio na psicose é uma tentativa de cura, investigaremos as tentativas de inserção nas relações sociais dos sujeitos psicóticos, que por estrutura estão fora dos laços já estabe-lecidos pela sociedade em que vivemos. Nesse intuito, como vem sendo meu método há alguns anos, farei referência a alguns autores clássicos da psiquia-tria, pioneiros na descrição dos fenômenos clínicos da psicose.Como me situo em relação à tendência atual da psiquiatria quanto à questão diagnóstica e aos tipos clínicos da psicose cuja classificação defendo neste livro?
Language
Portuguese
Pages
250
Format
Kindle Edition
Release
March 11, 2024
Psicose e laço social: esquizofrenia e paranoia na cidade dos discursos (Portuguese Edition)
Neste livro abordarei, a partir dos conceitos fundamentais da psicanálise lacaniana, os três tipos clínicos da psicose descritos pela psiquiatria clássica e adotados por esquizofrenia, paranoia e melancolia.Tratarei,portanto,dessas entidades clínicas que têm como denominador comum a foraclusão do Nome-do-Pai no campo do Outro – mecanismo essencial da psicose descrita por Lacan no final dos anos 50 e que permanece um marco e uma referência essencial para a clínica tanto psicanalítica quanto psiquiátrica. A referência ao Nome-do-Pai como divisor de águas da clínica jamais foi abandonada por Lacan, mesmo quando ele veio a acrescentar e desenvolver outros conceitos ao longo de seu ensino .A foraclusão do Nome-do-Pai no campo do Outro permanece uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose.“Pois”, diz Lacan em 1972,“foi na ‘questão prévia’ de meus Escritos, que era para ser lida como resposta dada pelo percebido na psicose, que introduzi o Nome-do-Pai, e é lá que, nos campos pelos quais ele permite ordenar a própria psicose, podemos medir sua potência.”Meu ponto de partida para abordar a psicose aqui é o campo do gozo e a teoria dos discursos de Lacan, principalmente no que concerne à esquizofrenia e à paranoia. Ao lado da foraclusão do Nome-do-Pai no campo do Outro acrescentamos uma outra referência de os tipos clínicos da psicose se encontram “fora-do-discurso”.Eis o que será problematizado neste livro, ocasião de nos perguntarmos sobre os laços sociais dos sujeitos psicóticos. Se eles estão fora-do-discurso e, portanto, fora do laço social por estrutura, isto não quer dizer que jamais entrem em relação com um outro sujeito dentro do marco de um dos discursos ? A vida cotidiana e a clínica com sujeitos psicóticos nos mostram que eles entram numa relação em que está em jogo o governo, o comando, a dominação, a submissão, a educação, a burocracia, o fazer desejar, a sedução, a provocação de saber, o psicanalisar.Pretendo aqui lançar as bases para se pensar o fora-do-discurso da psicose e suas tentativas de laço social. Assim como, para Freud, o delírio na psicose é uma tentativa de cura, investigaremos as tentativas de inserção nas relações sociais dos sujeitos psicóticos, que por estrutura estão fora dos laços já estabe-lecidos pela sociedade em que vivemos. Nesse intuito, como vem sendo meu método há alguns anos, farei referência a alguns autores clássicos da psiquia-tria, pioneiros na descrição dos fenômenos clínicos da psicose.Como me situo em relação à tendência atual da psiquiatria quanto à questão diagnóstica e aos tipos clínicos da psicose cuja classificação defendo neste livro?