Não quero entrar na discussão sociológica relativa às representações simbólicas, nem na polémica sobre a questão do status, mas ater-me àquilo que Lourenço Correia de Matos estudou, ou seja, à forma como os estabelecimentos, cuja lista fornece em anexo, obtinham patrocínio, através da autorização do uso do termo «fornecedor da Casa Real». Segundo os requerimentos apresentados à Mordomia-mor, entidade a quem competia a concessão, os pioneiros datam de 1824: foram eles Jacques Plane, cabeleireiro da Real Família, e Maria Ana Burnay, modista da Infanta D. Maria da Assunção. Procurando justificar a pretensão, alguns dos requerentes mencionavam os serviços prestados à Rainha ou à Família Real. Outros, em menor número, referiam o facto de o comerciante em causa ter apoiado o lado liberal durante as guerras civis: António José Salgado pedia a continuidade do título de alfaiate da Casa Real, juntando um atestado passado por um coronel, em 1845, sobre o desempenho militar de seu pai, onde se louvava a adesão à Causa, «a ponto que, tendo uma das melhores lojas de alfaiate, de boa vontade a conservou fechada em todo esse tempo, perdendo seus interesses». Às justificações, políticas ou sociais, acrescentavam-se outras, de carácter pessoal. Muitos requerimentos vinham acompanhados de «cunhas». Como é óbvio, quando os pedidos eram feitos durante as campanhas eleitorais, era mais fácil obter a distinção, mas, como Lourenço Correia de Matos demonstra, o privilégio era acessível. Ao contrário do que sucedia noutros países, a mercê era paga , o que levaria alguns a pedir para a pagar em prestações, havendo até casos de desistência.
Não quero entrar na discussão sociológica relativa às representações simbólicas, nem na polémica sobre a questão do status, mas ater-me àquilo que Lourenço Correia de Matos estudou, ou seja, à forma como os estabelecimentos, cuja lista fornece em anexo, obtinham patrocínio, através da autorização do uso do termo «fornecedor da Casa Real». Segundo os requerimentos apresentados à Mordomia-mor, entidade a quem competia a concessão, os pioneiros datam de 1824: foram eles Jacques Plane, cabeleireiro da Real Família, e Maria Ana Burnay, modista da Infanta D. Maria da Assunção. Procurando justificar a pretensão, alguns dos requerentes mencionavam os serviços prestados à Rainha ou à Família Real. Outros, em menor número, referiam o facto de o comerciante em causa ter apoiado o lado liberal durante as guerras civis: António José Salgado pedia a continuidade do título de alfaiate da Casa Real, juntando um atestado passado por um coronel, em 1845, sobre o desempenho militar de seu pai, onde se louvava a adesão à Causa, «a ponto que, tendo uma das melhores lojas de alfaiate, de boa vontade a conservou fechada em todo esse tempo, perdendo seus interesses». Às justificações, políticas ou sociais, acrescentavam-se outras, de carácter pessoal. Muitos requerimentos vinham acompanhados de «cunhas». Como é óbvio, quando os pedidos eram feitos durante as campanhas eleitorais, era mais fácil obter a distinção, mas, como Lourenço Correia de Matos demonstra, o privilégio era acessível. Ao contrário do que sucedia noutros países, a mercê era paga , o que levaria alguns a pedir para a pagar em prestações, havendo até casos de desistência.