João Barrento tem vindo, nos últimos anos, a publicar vários ensaios de relevo para a cultura portuguesa. Seguindo-se a "A Palavra Transversal" , "Uma Seta no Coração" e "Umbrais - o pequeno livro dos prefácios " surge agora "A Espiral Vertiginosa - ensaios sobre a cultura contemporânea", a par de uma colaboração regular no suplemento "Mil Folhas" do jornal "Público", de várias traduções de escritores de língua alemã e da actividade universitária.
Neste livro, Barrento pega em questões e conceitos que nos são caros e pensa-os, colocando-os no confronto modernismo-pós modernismo, chegando à seguinte conclusão:
"O modernismo foi uma cultura da rotura em profundidade, que virou do avesso os paradigmas racionalistas, positivistas e realistas; o pós-moderno é uma cultura do radical em extensão, numa convivência sem complexos. O que antes era rigorismo radical, com limites bem definidos, transformou-se hoje num culto do radical pelo radical. O que antes foi rasurado - o Eu, o sujeito: mas não a subjectividade - expõe-se hoje sem limites e sem subjectividade nos 'talkshows' e nos 'reality shows', na literatura do 'realismo urbano total': o Eu exterior, o corpo sem interioridade, só com uma alminha feita fait-divers, emoções mesquinhas, biografias rasas. Lúdicas e puramente anódinas. A cultura pós-moderna, diferentemente da moderna, não é crítica nem rigorista, é performativa e transgénica, híbrida e permeável, quase já só tem corpo e sexo. O resultado: um enorme tédio, porque não se pode ir mais longe do que o corpo, e porque a banalização do gesto pretensamente extremo nos deixa cada vez mais indiferentes."
E o que é que nos resta neste tempo que cada vez mais nos empurra para o "vazio"? João Barrento pronuncia-se assim nas linhas finais do livro: " Tudo o que eu pudesse acrescentar seria apenas um prolongamento do meu próprio processo de aprendizagem da viagem como poesia. E resume-se numa frase: estou a reaprender a lentidão."
Este livro é talvez o mais sério candidato ao Prémio para o Melhor Ensaio do ano que agora termina.
João Barrento tem vindo, nos últimos anos, a publicar vários ensaios de relevo para a cultura portuguesa. Seguindo-se a "A Palavra Transversal" , "Uma Seta no Coração" e "Umbrais - o pequeno livro dos prefácios " surge agora "A Espiral Vertiginosa - ensaios sobre a cultura contemporânea", a par de uma colaboração regular no suplemento "Mil Folhas" do jornal "Público", de várias traduções de escritores de língua alemã e da actividade universitária.
Neste livro, Barrento pega em questões e conceitos que nos são caros e pensa-os, colocando-os no confronto modernismo-pós modernismo, chegando à seguinte conclusão:
"O modernismo foi uma cultura da rotura em profundidade, que virou do avesso os paradigmas racionalistas, positivistas e realistas; o pós-moderno é uma cultura do radical em extensão, numa convivência sem complexos. O que antes era rigorismo radical, com limites bem definidos, transformou-se hoje num culto do radical pelo radical. O que antes foi rasurado - o Eu, o sujeito: mas não a subjectividade - expõe-se hoje sem limites e sem subjectividade nos 'talkshows' e nos 'reality shows', na literatura do 'realismo urbano total': o Eu exterior, o corpo sem interioridade, só com uma alminha feita fait-divers, emoções mesquinhas, biografias rasas. Lúdicas e puramente anódinas. A cultura pós-moderna, diferentemente da moderna, não é crítica nem rigorista, é performativa e transgénica, híbrida e permeável, quase já só tem corpo e sexo. O resultado: um enorme tédio, porque não se pode ir mais longe do que o corpo, e porque a banalização do gesto pretensamente extremo nos deixa cada vez mais indiferentes."
E o que é que nos resta neste tempo que cada vez mais nos empurra para o "vazio"? João Barrento pronuncia-se assim nas linhas finais do livro: " Tudo o que eu pudesse acrescentar seria apenas um prolongamento do meu próprio processo de aprendizagem da viagem como poesia. E resume-se numa frase: estou a reaprender a lentidão."
Este livro é talvez o mais sério candidato ao Prémio para o Melhor Ensaio do ano que agora termina.